Manuel de Barros
"Ali me anonimei de árvore.
Me arrastei por beiradas de muros cariados desde Puerto Suarez, Chiquitos, Oruros e Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia.
Depois em Barranco, Tango Maria (onde conheci o poeta Cesar Vallejo), Orellana e Mocomonco - no Peru.
Achava que a partir de ser inseto o homem poderia entender melhor a metafísica.
Eu precisava de ficar pregado nas coisas vegetalmente e achar o que não procurava.
Naqueles relentos de pedra e lagartos, gostava de conversar com idiotas de estrada e maluquinhos de mosca.
Caminhei sobre grotas e lajes de urubus.
Vi outonos mantidos por cigarras.
Vi lamas fascinando borboletas.
E aquelas permanências nos relentos faziam-me alcançar os deslimites do Ser.
Meu verbo adquiriu espessura de gosma.
Fui adotado em lodo .
Já se viam vestígios de mim nos lagartos.
Todas as minhas palavras já estavam consagradas de pedras.
Dobravam-se lírios para os meus tropos.
Penso que essa viagem me socorreu a pássaros.
Não era mais a denúncia das palavras que me importava mas a parte selvagem delas, os seus refolhos, as suas entraduras."
Fonte: nave da palavra
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