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"Toda instituição passa por três estágios - utilidade, privilégio e abuso." François Chateaubriand



segunda-feira, maio 05, 2003









Wally Salomão 1945 - 2003



Eu faço versos
Como quem chora
De desalento
De desencanto
Fecho o meu livro
Se por agora
Não tens motivo
Nenhum de pranto

Meu verso é sangue
Volúpia ardente
Tristeza esparsa
Remorso vão
Dói-me nas veias
Amargo e quente
Cai gota
A gota
Do coração

E nestes versos
De angústia rouca
Assim dos lábios
A vida corre
Deixando um acre
Sabor na boca
Eu faço versos
Como quem morre






Exterior


 
Por que a poesia tem que se confinar?
às paredes de dentro da vulva do poema?
Por que proibir à poesia
estourar os limites do grelo
da greta
da gruta
e se espraiar além da grade
do sol nascido quadrado?

Por que a poesia tem que se sustentar
de pé, cartesiana milícia enfileirada,
obediente filha da pauta?
Por que a poesia não pode ficar de quatro
e se agachar e se esgueirar
para gozar
– carpe diem! –
fora da zona da página?

Por que a poesia de rabo preso
sem poder se operar
e, operada,
polimórfica e perversa,
não pode travestir-se
com os clitóris e balangandãs da lira?



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