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"Toda instituição passa por três estágios - utilidade, privilégio e abuso." François Chateaubriand



sábado, setembro 11, 2004

Revista Veja, que vergonha!


    por Ariana C. Rumstain



"Sou professora da rede particular de ensino e gostaria de manifestar o meu repúdio à revista Veja pela publicação da reportagem Os Madraçais do MST (edição nº 1870). Fiquei enojada de ver tanta parcialidade e falta de seriedade com a qual a jornalista responsável (ou irresponsável) tratou a questão do MST e, em especial das escolas, afirmando: ' Assim como os internatos muçulmanos, as escolas dos sem-terra ensinam o ódio e instigam a revolução. Os infiéis, no caso, somos todos nós '.
Agora, nós quem? Também me sinto lesada por ter estudado a vida toda em escolas particulares e ter aprendido que 7 de setembro é o dia da Independência. Ora, vamos deixar de enganar a todos. Quando o Brasil foi Independente? Como se deu este processo?

É preciso lembrar que a história do Brasil não foi contada pelos negros, índios ou excluídos, é sempre uma versão dos fatos e quem sabe agora ela não poderá ser reelaborada de modo, se não agradável a todos, pelo menos a imensa maioria que de fato passa fome e é excluído de necessidades básicas de toda a natureza.

Qual o problema em fazer a revolução? Se a jornalista e a revista em questão estão com medo de perder os cargos, os carros e a posição social conquistada... Ora acordem, do jeito que está não dá, não há como ser livre e feliz diante de um mundo e uma situação como a que vivemos hoje...

Se formos questionar o porque do MST comemorar datas como a morte de Guevara ou o nascimento de Marx, teremos que questionar a razão de comemorarmos também o Dia das Mães, o Natal, o Dia das Crianças ou dos Namorados, uma infinidade de datas a serviço do mercado...

Se formos questionar o despreparo dos professores do MST, teremos de questionar a situação dos professores no Nordeste, ou ainda, o que é mais grave, se formos elaborar uma reportagem tão absurda como esta publicada pela revista Veja, teremos de publicar uma também que diga que em nossas escolas particulares ensinamos, se é que ensinamos, conteúdos que nada tem a ver com a prática cotidiana e social. Que 70 por cento do que é aprendido nas escolas autorizadas pelo MEC são esquecidos ao longo de um ano ou menos.

De que servem os conteúdos aprendidos nos bancos escolares se a maioria de nossos alunos não é capaz de pensar o mundo, de refletir sobre questões contemporâneas que assolam nossas grandes cidades (como exemplo o recente caso dos mendigos mortos em São Paulo). Que professores pararam suas aulas de logaritmo, trigonometria ou orações subordinadas para refletir sobre o mundo.

De que serve os conteúdos aprendidos na escola se quando lemos uma reportagem como a publicada pela Veja encaramos com seriedade esta clara manipulação...
Paremos com esta defesa inútil de classe.

Que mais pessoas possam ler Veja, Estadão, Folha e Caros Amigos e encontrem o caminho da responsabilidade social e do pensar."



Ariana C. Rumstain é estudante de Ciências Sociais.


Fonte: Caros Amigos

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